No vale da morte, o canto do sabá


NO VALE DA MORTE, O CANTO DO SABIÁ 


Aos milhões de crianças que abandonam as escolas se somam os bilhões que pagamos pelo prolongamento da crise que repercute em comportamento violento e baixa produtividade provocada por esta crise de insensibilidade do ensino. Mas o ponto chave está fora da visão de um olhar descuidado dessa infame evasão escolar: as crianças não estarem engajadas com sua própria escola porque simplesmente a detestam. Uma visão oportuna e decepcionante que a escola não traz nenhuma vantagem real pra suas vidas.
Embora gaste-se muito dinheiro com educação e se faça muita discussão sobre o tema, parece que o caminho e a direção tomada, ainda continuada sem rumo. As disciplinas pedagógicas hoje existente não desafia o estudante, não os encanta. Não irei argumentar com a disciplina de ciência e matemática; embora úteis e necessárias, elas não são suficientes. A educação real tem que abarcar outras que tocam o imaginário e a emoção como arte, educação física e humanidades. E o mais terrível desse tenebroso indicador, é que aqueles estudantes que mostram interesse por estes – digamos, “outros” assuntos são incentivados a o abandonarem. 
A curiosidade do aprendiz tem sido – diuturnamente, desprezado na escola. E isto é exatamente ser aprendiz; mas negam isso a ele e optam por diagnosticá-lo – se assim insistir, que tem – muito possivelmente, problemas psicológicos.  
Por outro lado bons professores se sentem presos numa grade onde eles servem somente como meio de entrega. Ora, mestres não devem – único e simplesmente, serem passadores de informação. Podem muito mais, como orientar, estimular, provocar, engajar; do contrário não acontecerá a mágica do aprendizado cúmplice. E este é o ponto nevrálgico da escola: fazer pessoas aprenderem. Imaginem alguém fazendo dieta, mas não perdendo peso. Exato. A pessoa está realizando algo – que seria a dieta, mas por ela mesma não se sentir envolvida, o resultado se mostra pífio.
Digamos que um potencial professor, que ilusoriamente chamarei de Alex está em sala de aula. João, seu ilusório aluno, também lá está. Somente isso. Uma imagem. Se continuarmos nesta tread, Alex aplica os testes de conhecimento em João, objetivando não inibir a proximidade da relação de ambos, mas o reforço no embasamento desta relação. Criar uma cultura de curiosidade e não de conformidade.  
Mas vence a rotina que perpetra uma cruel morte no poder da imaginação de Alex e de João.
Nós podemos criar e recriar. Temos esse poder humanizante de sermos – e somos, interessantes, diversos e de diferentes dinâmicas. O mesmo não podemos afirmar em outros serem viventes. Vejamos: animais não ficam nas janelas tirando fotos, ouvindo música e degustando uma bebida.
O papel da educação é – num incansável processo, imaginar alternativas e possibilidades para exatamente desenvolver e despertar esses poderes de criatividade da raça humana. Mas sempre optamos pela padronização. Os testes que a cúpula autoritária considera menos crítico junto aos alunos, são tão importante como. Os sintomas de um aprendiz vão além de matemática e ciência; o que inclui outras disciplinas – como exposto anteriormente. A arte, por exemplo, precede o indivíduo. Enganoso pensar que somos eternamente motivados por coisas imediatas.  
Alguns desavisados podem justificar que o ensino em alguns países são bons porque sua economia é melhor e o número de habitantes é menor. Muito bem, isolemos então uma população e a inserimos num território que possa ter alguma semelhança quantitativa, em seguida diagnostiquemos a sua educação. Será diferente do restante do país? E se for, ficará neste patamar todo o tempo?
Estes territórios – extra fronteira, onde a educação se faz com alto desempenho, é devido a um engajamento nas qualidade individuais e criativas dos elementos humanos existentes em sala de aula, onde o coração bate o compasso do “aprender”. Professor e aluno têm a liberdade do óbvio: curiosidade frente ao novo.
A Ásia, a Oceania e países da América do Norte, como o Canadá, obtêm sucesso na educação por apoiar o professor neste enfrentamento; como investimento e desenvolvimento profissional. Com delegação de responsabilidade para que a escola faça melhor o seu trabalho.  
Mas esta centralização de comando e controle só faz afastar os partícipes presente numa sala de aula. Aí a educação segue navegando somente com o uso medieval de ventos favoráveis.
Na sala de aula há mais do que cadeiras, mesas e lousa. Não adianta ajustar os parafusos destes objetos para que a educação possa melhorar. Educação não se enquadra como algo mecânico. 
É um sistema humano.  
Cada estudante que abandona a escola enraíza em si uma justificativa. A história será sempre singular, embora possamos discordar dos motivos desse abandono.
A educação tem que considerar que trabalha com gente para assim e ver as melhores condições onde isso possa prosperar.
Hoje, existe somente uma canção de morte onde canta o sabiá. Mas existe vida. Há vida. Isso prova que estudantes, professores e escola estão num sono letárgico. Precisa chegar algo pra fazer brotar vida. Afinal, a vida, em quaisquer circunstância, é sempre inevitável.
A educação tem que se ver com novas expectativas numa ampla gama de oportunidades entre mestre e aprendiz com o critério de criação e inovação para que desabrochem do vale da morte.
A verdadeira liderança educacional não comanda ou controla, mas cria as condições de canto. Pessoas têm mobilidade e necessidade de mudança e isto é favorável para que coisas aconteçam. Um movimento assim cria sentido antes que nos percebamos.

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