CORPO eu possuo poder sobre ele?


CORPO – eu possuo poder sobre ele?
Descuidadamente, tendemos a pensar em nossos “eu” corpóreos como o único perfeito domínio do ser humano. "Meu corpo pertence a mim" uma declaração banal; embora filósofos como Koenig alerte sobre uma ingarantia frente às autoridades legais, morais e corporativas.


Quando presenciamos uma pessoa em total (des)harmonia de cores e com grande parte de sua pele tomada por imagens, deduzimos que esta pessoa carrega um grande cartaz dizendo: "Meu corpo, meu território".  Mas quem é essa pessoa?  É um indivíduo lacrador? Um adolescente rebelde?  Não; e muitas vezes pode simplesmente ser aquele que toma pra si o controle do corpo e através de interrupções voluntárias grafa a idéia de que "meu corpo a mim pertence”. No entanto, não é inteiramente verdade: seu corpo – pode até ser chocante afirmar, mas é honesto dizer: não lhe pertence; pelo menos enquanto esteja vivo.   
Qualquer pessoa tem pouca ou quase nenhuma permissão para alugar ou vender órgãos de seu próprio corpo.  Em muitos países não se tem autonomia para vender, inclusive, sua sexualidade. Não se tem permissão para definir o gênero, pois antes terá que enfrentar um médico ou estar diante de um juiz.   
Também não se tem permissão para fazer o que quiser com o seu corpo; tipo: candidatar-se a ser arremessado por outros.  Citando, por exemplo, a cena idealizada por Leonardo Di Caprio no arremesso de anões, copiada na vida real pela comunidade francesa de Morsang-sur-Orge de l'Essonne, no início dos anos 90.  A autoridade dessa comunidade disse:  "Isso não pode continuar - não podemos lançar anões".  E quem iria protestar?  Neste caso, foram os próprios anões. Tiraram-lhes um ganha-pão e um certo renome, e aparentemente um certo sucesso com as mulheres.   
Não se pode também deliberar sobre o corpo para morrer; como também não pode decidir ser sacrificado.  No entanto, no ano de 2001, um cidadão alemão postou um anúncio dizendo:  "procuro um voluntário para comer".  Ele recebeu vários candidatos, fez uma seleção, conduziu algumas entrevistas, sendo que finalmente encontrou o candidato perfeito.  É uma loucura, mas é fato. Mesmo pós morte não se pode fazer o que quiser com o seu corpo.  Você não se pode congelar e continuar a viver na sua casa por não haver propriedade privada ou patrimonialidade sobre o corpo - a pessoa não está disponível sob a lei.   
E assim, o corpo em si não é patrimonial.  Caso uma instituição retire de você células, e a partir delas encontre alguma serventia farmacêutica e fature milhões, você verá que as células não são suas de fato, dado que a pessoa não tem propriedade sobre suas células   
Dentro das religiões judaico-cristãs, o corpo pertence a Deus.  O corpo é o reflexo da alma sendo sua alma imortal, que ao fim de uma vida biológica junta-se ao reino dos céus (sugiro a leitura do livro “a vagar”.   
Pio XII afirmou que o homem é apenas um usufrutuário de seu corpo, não é dono pleno.  Assim, dentro do nosso sistema jurídico secular, o conceito de Deus foi substituído pelo conceito de dignidade.  Daí a proibição na França da “divertida” festa domingueira de “arremesso de anões” – a dignidade do indivíduo vista como parte da ordem pública; a transcendência Aquinate divina abolida, mas retomada pelo Estado ou pela sociedade, se preferir, definindo a dignidade de todos.  Então dignidade é a sacralidade sem Deus.   
Alguns questionam essa “lei” seja natural ou dos homens, justificando que se pode ter posse sobre coisas exteriores, muito mais teria sobre o seu próprio corpo, por ser essa a posse primeira “usus, fructus e abusus”; a começar pela sexualidade onde adiciona-se um pouco disso ou daquilo, o que resulta em muitas coisas.  A ciência mesmo, já busca aperfeiçoar o ser humano a partir de habilidades cerebrais, até mesmo modificando o próprio DNA. 
Ray Kurzweil, o papa do transumanismo, diz ser possível transferir a consciência para uma chave USB.  Bem, já se ganha bilhões com dados pessoais. Veja a confusão promovida pelo site “intercept” – ele manipula dados de terceiros, obtidos criminalmente, e mesmo assim recebe toda a atenção da sociedade e de agentes públicos e políticos. Os alvos-vítimas nada podem fazer por não haver patrimonialidade - vista sob a questão de interesse “jornalístico”.
Enfim, para que todos possam escolher seus próprios valores, neste universo complexo, devemos primeiro possuir nossos próprios corpos.  O que hoje, não é o caso.
PODCAST em linkr.ee/meuimaginal

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